sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Um dia aparentemente tranquilo

Ao chegar em casa da minha mãe logo cedo, não fosse pelo grito "ABRE A PORTA PELO AMOR DE DEUS", poderia jurar que seria um dia de absoluta paz e tranquilidade.
Levantou, comeu o sucrilho, depois foi se deitar pra me esperar voltar da academia.  Ela disse que queria dar umas 50 voltas na garagem... rs
*****
Quando eu voltei ela já estava de pé.  Foi ao banheiro, coloquei um vestido nela, limpei seu rosto, penteei seus cabelos, coloquei a sapatilha e fomos andar na garagem.  Ela deu 3 voltas e disse que estava cansada.  Sentei-a em frente a porta de sua casa e comecei a tirar alguns pelos que nasciam embaixo do seu queixo.  Dei a ela uns biscoitos com café com leite.  
Nesse momento ela viu a vizinha da frente e a chamou.  Como sei que quando ela recebe visitas ela fica alterada, torci muito pra vizinha desistir da visita.  Convenci minha mãe de entrar para tomar os remedios.  Logo que ela entrou, tocaram o interfone.  Era a vizinha.  
- "Como vai D. Armanda?"
- "Vou bem graças a Deus!"
- "Que bom...."
- "Estou muito bem mesmo, graças a Deus!"
- "Que ótimo!  Ela come de tudo Catia?" - perguntou a vizinha pra mim.
- "Come sim.  Ela come bem."
- "Mas ela come doce também?"
- "Come, graças a Deus os exames dela estão todos ótimos, ela não tem problema de açucar não..."
- "Que bom né..."
Então desconversei e falei que precisava ir embora.  A vizinha também resolveu ir pra casa dela.
Já eram 8,30hs, então falei com minha mãe: Vamos ao banheiro e depois a senhora deita um pouquinho pra esperar a Cristina (cuidadora).
Quando fui suspender sua calça no banheiro, ela virou pra mim e disse:  "Tô entendendo .. vc vai me amarrar né?"  Eu disse: "É claro que não mãe!  A senhora está de calcinha só..."
Ela se deitou e começou a gritar desesperadamente:
"AI MEU DEUS, ME AJUDE, TEM MISERICORDIA DE MIM! 
AI MEU DEUS, ME AJUDE, TEM MISERICORDIA DE MIM! 
AI MEU DEUS, ME AJUDE, TEM MISERICORDIA DE MIM!
AI MEU DEUS, ME AJUDE, TEM MISERICORDIA DE MIM!"  
*
Ficou gritando sem parar e cada vez mais alto.  Eu, desesperada sem saber o que fazer (nunca tinha presenciado algo parecido, embora eu já soubesse que ela fazia isso de vez em quando) perguntei pra ela:
"A senhora quer que eu tire sua calça, pra ficar mais folgada?"  Ela disse que sim.  Deixei-a só de camisola na cama.  Mas ela continuou a gritar.
Não tive outro jeito, dei um comprimido de calmante pra ela, ajoelhei ao lado da cama e tentei com todas as minhas forças e palavras acalmá-la.  Mas ela continuou a gritar... então eu falei "Mãe os vizinhos já estão preocupados com a senhora.  Querem saber porque a senhora está gritando tanto."  Então ela se calou por alguns minutos.  
*
Fui pra casa, mas meu pai disse que logo em seguida ela recomeçou a gritar.
Uma hora depois voltei pra conversar com a Cristina sobre o ocorrido.  Conversamos eu, ela e meu pai.  
A situação é muito complicada.  Minha mãe tem uma doença ingrata que acaba emocionalmente com as pessoas que convivem com ela.  Meu pai não aceita, não entende, nem acredita que a doença que minha mãe tem é doença de velhice.  Ele quer que venham pessoas de todas as igrejas para orarem por ela na esperança da cura.  Ele não entende que se Deus quiser fazer um milagre, ele fará, independente de igreja ou de pessoa.  Tudo está nas mãos dele.  
Tem sido bastante dificil cuidar da minha mãe, ainda mais agora que meu pai está emocionalmente abalado.  O que eu peço a Deus, unicamente, é que ele nos dê força, paciencia e amor, pois isso é tudo o que minha mãe precisa nessa hora.  
*
Agora a noite, encontrei a minha rua sem luz.  Imaginei logo o que estaria acontecendo na casa de minha mãe.  Ficaram sem luz desde as 18 horas.  Os vizinhos estavam todos ao redor do apartamento deles, para acalmarem minha mãe.  Meu pai disse que ela gritou muito para abrirem a porta.  Acho que ela ficou com medo.
Pediu para lanchar.  Apos o lanche foi ao banheiro e em seguida se deitou.  Aparentemente tudo calmo...

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