quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Natal 2011

Meu Natal não foi diferente do que eu esperava.  Sabia que não teríamos alegria e nem motivos para sorrir.  Mas foi mto alem disso... 
Senti falta de muitas pessoas mas principalmente de minha mãe... Senti falta da minha mãe ao meu lado, comendo castanha comigo, me ajudando a limpar o bacalhau, aquela mulher alegre que ficava feliz ao ver a mesa farta...
Esse ano estava ao meu lado minha mãe.  Com o olhar distante, corpo cambaleante, andar vacilante, comendo compulsivamente sem saber o motivo daquela mesa posta diante dela.  Não sabia que era Dia de Natal, embora eu tivesse falado com ela durante todo o dia:  "Mãe hoje é Natal!"  "Veja que vestido lindo eu comprei pra senhora!"  "Olha a sandália mãe, não é linda?"  Ela olhava e só respondia: "É"  Em seu rosto não havia o menor sinal de alegria...  
Chorei... Jamais me esquecerei desse dia de Natal!

Agora um novo ano começa.  Fui uma péssima companhia durante esse ano que está terminando:  chata, repetitiva, triste, reclamona, nervosa, ansiosa, irritada com tudo e com todos.  
Queria poder fazer diferente em 2012.  Ser menos chata, menos repetitiva, mais corajosa para enfrentar os problemas e tentar resolve-los sozinha.  Acho que não vou conseguir... mas pelo menos vou tentar. 
Com certeza será um ano mais dificil do que o que está acabando.  Preciso de muita, mas muita força para continuar a lutar.  Preciso de coragem para enfrentar o que ainda está por vir.  E pra isso só posso contar com a ajuda de Deus e tenho certeza que ele estará ao meu lado e me conduzirá pelo melhor caminho sempre.

À todos que aqui passarem, desejo um ano de PAZ!


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

RETRATO


(Para todos que cuidam de idosos com Alzheimer)

"Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, 


nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; 


eu não tinha este coração que nem se mostra. 


Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: 


Em que espelho ficou perdida a minha face?“

Cecília Meirelles

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Andar vacilante


A fase do “SENFINEZ” está passando...  Mas agora minha mãe chama (grita) pelo meu pai o tempo todo.   Quando perguntamos o que ela quer com o Orlando ela diz: “quero que ele acorde” .  O que será que ela quer dizer com isso?  Ela diz que ele é pinguço (bebe todas), moleza, e que não pode ver um rabo de saia que fica todo ouriçado... rs Ou seja, tudo o que não presta são qualidades dele... rs

Mas, o que tem me incomodado bastante atualmente é com o seu andar...

Tenho o costume de caminhar com ela todos os dias pela manhã... mas atualmente sinto que está cada vez mais difícil.  Ela caminha em total desequilíbrio, tombando o corpo para frente, tornando mto difícil essa tarefa.  Hoje, constatei que é hora de parar de insistir na caminhada.  Pela terceira vez eu não consegui equilibrá-la e ela caiu.   Tenho medo que da próxima vez possa ser pior e ela possa fraturar algum osso, então prefiro ceder.  Vou fazer alguns exercícios com ela no sofá (lugar preferido dela).  Não quero desistir tão fácil assim.  Vou tentar até não conseguir mais...

Meu pai por sua vez diz que está cansado, que já não aguenta mais presenciar tudo o que vem acontecendo.  Ele, com certeza, não está preparado para a fase final da doença.  E nem eu....

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

TrOcAnDo As BoLaS



- Doutor, a minha mulher não está bem.
- Porque o senhor diz isso? 
- Ela está trocando palavras, nomes, lugares, pessoas e etc.
- Aposto que foi ela quem falou para o senhor passar aqui. Não foi? Perguntou o médico.

- Foi sim senhor! Como o senhor descobriu?

- Eu sou o pediatra.



Esse texto serve para ilustrar a atual situação da minha mãe...  Atualmente ela está trocando muito os nomes das pessoas e objetos...


É complicado, as vezes, entender o que ela quer, mas com o auxilio das cuidadoras que passam a maior parte do tempo com ela a gente consegue atender os seus pedidos.  Já inventei até uma nova lingua para conversar com ela: o SENFINEZ... rs


Isto porque todas as frases que ela diz, sempre coloca a expressão "sem fim" no final.


Um exemplo de uma frase que ela usa com frequência:


"quando eu era solteira eu tinha um marido sem fim, agora que eu tenho um marido sem fim, continua sem uma gota d'água no pé"


Ou seja, nada faz sentido com nada...   


A técnica utilizada é não contraria-la.  Entro na onda dela e digo que logo logo tudo se ajeita e ela aceita e fica calma.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mudança do Quadro



Hoje finalmente chegou o dia tão esperado por mim.  O dia em que eu soube de fato o que minha mãe tem ou teve...

Desde 2009 ela vem sendo tratada como uma paciente com Alzheimer.  Mas, há 40 dias atrás, em busca de uma segunda opinião de um neurologista, fiquei surpresa quando ele me disse que talvez o que minha mãe tinha não era Alzheimer e sim algum outro tipo de demência.

Após um exame de ressonância magnética ele constatou o que eu “temia”:  Minha mãe estava sendo tratada erradamente.  Com a medicação completamente contra-indicada para o quadro dela.   Tanto é que, após a retirada de mais da metade dos comprimidos que ela vinha tomando, o quadro clinico dela não se alterou muito.  Ela continua fazendo algumas confusões, falando algumas tantas bobagens, repetindo frases por n vezes, dormindo noite sim / noite não.... às vezes chora (sem lágrimas e sem motivo)... às vezes dá risada de cenas que vê no Jornal Nacional... rs  Mas está mais desperta, menos dopada.

Ou seja, o que minha mãe tem, ainda não é Alzheimer.  E eu digo ainda, porque ele disse que com o decorrer da idade pode se desenvolver um quadro de Alzheimer também.  Ela apresenta uma DEMÊNCIA VASCULAR CEREBRAL causada por varias e sucessivas isquemias, o que causou uma lesão no cérebro dela.  Ele também disse que as características dessa demência são bem parecidas com as de uma pessoa com Alzheimer.  Explicou-me que no Alzheimer o avanço da doença é rápido e que no caso dela é mais lento.

Enfim fez algumas modificações na medicação dela e retirou mais um comprimido dos que ela estava tomando (lexotan).  Disse-me que os calmantes causam mais confusão mental nos idosos com demência.  Acrescentou um remédio para melhorar a vascularização do cérebro e a memória. 

Nosso retorno ao médico está agendado para o dia 9/1/12.  Mais um mês pela frente. O mais é pedir a Deus FORÇA, PACIÊNCIA e SABEDORIA para sabermos lidar com o dia-a-dia dela.

Segue abaixo um texto que encontrei na internet bastante esclarecedor:

Quando o cérebro enfraquece – Demência vascular cerebral é mais comum do que se imagina e pode ser confundida com o mal de Alzheimer, mostram pesquisadores:
A partir da análise do tecido cerebral de 214 pessoas, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP constataram que a demência vascular cerebral pode ser muito mais comum do que se imagina. E mais: muitas vezes ela acaba sendo confundida com a doença de Alzheimer.
Os cientistas querem agora comprovar que o número de casos de demência vascular pode até superar os de Alzheimer. Para isso, pretendem ampliar os estudos e analisar cerca de 800 cérebros. O projeto, coordenado pela médica Lea Tenenholz Grinberg, foi um dos vencedores do Programa L’Oréal/Unesco Para Mulheres na Ciência.
“A demência vascular cerebral é muito mais comum do que se pensa e pode ser evitada. Essa pesquisa tem relevância porque há estudos que indicam que, em dez anos, os casos de demência irão dobrar”, aponta a médica, que atua do Projeto Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina como coordenadora do Banco de Cérebros. “A prevenção da demência vascular pode ser feita por meio de procedimentos simples, como controle de pressão arterial e dos níveis de colesterol no sangue, evitar frituras e excesso de sal etc.”, destaca.
A médica explica que o Alzheimer é uma doença degenerativa, na qual o acúmulo de substâncias estranhas ao cérebro leva à morte dos neurônios. Já a demência vascular é uma doença dos vasos do cérebro que, quando afetados, não conseguem suprir esse órgão de oxigênio e nutrientes e, assim, as conexões entre os neurônios se degeneram.
“Na demência vascular não há acúmulo de substâncias estranhas e as alterações são vistas principalmente na parte branca, área do cérebro onde ficam as fibras de comunicação do órgão. Os sintomas clássicos são discretamente diferentes, pois a doença de Alzheimer apresenta perda de memória progressiva e a demência vascular, perda de memória em ‘degraus’. Mas as doenças se sobrepõem e é difícil diferenciar pelo quadro clínico”, esclarece.
Demência x Alzheimer – Lea conta que o objetivo da pesquisa era descobrir qual era a demência mais comum no Brasil. Foram analisados, por meio de autópsia, 214 cérebros oriundos do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC). A idade dos participantes variava entre 50 e cem anos, com uma média de 75 anos de idade.
Os dados clínicos referentes a esses doadores foram obtidos por meio de entrevistas com os familiares dessas pessoas. De acordo com a médica, enfermeiros treinados aplicaram uma série de perguntas a fim de descobrir qual era o tipo de demência que a pessoa apresentava. “Era uma entrevista bastante longa, com duração de 40 minutos. Com ela era possível identificar, com precisão, qual era o estado mental da pessoa antes de morrer”, explica.
Os pesquisadores compararam os dados obtidos nas autópsias com as informações coletadas nas entrevistas. Os resultados apontaram que, dos 214 cérebros analisados, 30% apresentaram demência vascular, 14% demência vascular e Alzheimer e 25% apenas Alzheimer. Esses números incentivaram os cientistas a ampliar a pesquisa e analisar 800 cérebros. São resultados que mostram que a incidência de demência vascular é muito mais comum do que se imagina.
Autópsias – Ela lembra que o Serviço de Verificação de Óbitos da Capital está vinculado à Faculdade de Medicina da USP. O serviço realiza a autópsia de cerca de 13 mil pessoas ao ano. “É um dado que não podemos deixar de lado, pois se trata de um serviço único no mundo ligado à nossa universidade. Os dados obtidos irão fornecer uma boa representação da população da capital paulista”, afirma a pesquisadora.
De acordo com informações do site do SVOC, o Serviço tem por finalidade esclarecer a causa mortis em casos de óbito por moléstia mal definida ou sem assistência médica ocorridos na cidade de São Paulo. Os casos de morte natural sem que haja definição de causa de óbito são encaminhados ao SVOC para realização de autópsia.
Multidisciplinar – O Programa L’Oréal/Unesco Para Mulheres na Ciência é uma iniciativa da Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a L’Oréal e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). São premiadas pesquisadoras que acabaram de desenvolver o doutorado e estão envolvidas em projetos científicos a serem desenvolvidos durante doze meses em instituições nacionais. O prêmio de US$ 20 mil foi entregue no dia 23, em cerimônia realizada no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
O Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina é multidisciplinar e multidepartamental. Existem dez pesquisadores responsáveis e a equipe completa, incluindo alunos, soma cerca de 40 pessoas.