terça-feira, 27 de novembro de 2012

Tudo de volta!!

Há algum tempo sem passar por aqui... 

As noticias que tenho não são boas... Depois do acidente ocorrido com meu pai, minha mãe entrou num surto psicotico.   Tentamos evitar ao máximo que ela soubesse do ocorrido com ele, mas quando retornou do hospital não houve jeito de esconder dela os acontecimentos.  Isso tudo fez uma grande reviravolta na cabeça dela.

As noites delas passaram a ser bastante agitadas.  O médico entrou com uma nova medicação para controlar a fase do surto psicotico.  Um remédio bastante forte que a deixou com os membros tremulos.  Após duas semanas ele suspendeu o remédio e voltamos para os que ela já vinha tomando.

Mas a fase dos GRITOS (constantes), CHORO, AGITAÇÃO, AGRESSIVIDADE, MUDANÇA CONSTANTE DE COMPORTAMENTO E HUMOR voltaram infelizmente.  O mesmo quadro do final de 2011 se reinstala na minha mãe.  

Ela chama (gritando) por mim e pelo meu pai o dia inteiro.  Quando algo a contraria ela não exita em meter a mão em quem estiver na frente dela!  Meu pai está muito esgotado com a situação e eu também.  Não queriamos que a fase ruim do ano passado, voltasse agora também no final de 2012.

Deus nos dê paciência, pois já faz três anos e meio que minha mãe começou o tratamento para demencia e infelizmente as coisas só pioram... 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O tempo voa...





Não faz muito tempo nós comemoramos o aniversário de minha mãe... mas quanta coisa aconteceu nesses últimos dias.

No dia 29 de setembro, fizemos uma reunião na casa dela para comemorar seu aniversário.  Como ela ficou feliz!!  A alegria estampava seu rosto!  Reencontrou a irmã (mto choro...), conversou, cantou parabéns, assoprou a velinha.  Aproveitou até o último minuto!!!

Dois dias após, meu pai deu entrada no hospital com suspeita de AVC.  Após tomografia, foi detectado que ele tinha um coágulo no cérebro.  Ficou no CTI por 3 dias e se submeteu a uma cirurgia para drenagem do sangue.  Após a cirurgia, permaneceu internado por mais 13 dias.  Mas graças a Deus, hoje ele já está em casa e passa bem.   Foram 16 dias de muita angustia e cansaço, mas passou. 

Minha mãe, nada soube, durante todo o tempo em que ele ficou internado.  Diziamos a ela que ele estava em um Congresso na igreja e ela se conformava.  Nos últimos dias já estava difícil controlar a ansiedade dela.  A presença de minha irmã (sua filha) e meu sobrinho (seu neto) com a esposa dele deram um pouco de alegria a ela e amenizaram o seu sofrimento por estar longe do seu “maridinho” – como ela o chama.

Quando meu pai voltou do hospital, o reencontro foi regado por muitos beijinhos, declaração de amor, e promessas, por parte dele para ela, de que “nunca mais sairia sozinho de casa”.

Dias difíceis.  Dias muito difíceis!

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Feliz Aniversário minha mãezinha - 82 anos!!!


Meu dia hoje amanheceu mais lindo! 

O sol até apareceu para brindar o aniversário de minha Mãe! Amo infinitamente essa mulher!


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

TESTAMENTO DE UM IDOSO COM ALZHEIMER...



"Junto com meu testamento, no qual lego a meus filhos e amigos a minha vontade de viver e meu amor a Deus e a toda a criação, faço um pedido: se, por ventura, no meu cérebro a senilidade penetrar sorrateiramente, a demência se infiltrar inesperadamente e o esquecimento, a falta de lucidez e a confusão se intalarem, por favor, lembrem que:

. eventualmente, ainda tenho uma vaga idéia de minha identidade;
. gosto de ser chamada pelo meu nome, aquele que meus pais me deram;
. posso ainda saber onde estou e com quem estou;
. posso estar gostando ou não de onde estou e com quem estou;
. faço ainda questão de usar aquele tipo de sapato que toda a minha vida usei;
. gosto ainda de usar a roupa ao estilo que sempre preferi;
. a roupa dos outros colocada em mim me entristece;
. a falta de atenção em me ajudar na higiene pessoal me traz ansiedade;
. a comida de um estilo que não conheço não me apetece;
. as fraldas de vez em quando me incomodam e me deixam envergonhada;
. gostaria, às vezes, de caminhar para espairecer e ver a natureza;
. receber uma palavrinha me faz lembrar que sou gente;
. receber visitas me faz lembrar que ainda sou importante;
. receber um abraço e um beijo me diz que alguém ainda tem afeto por mim;
. a falta de sono não é proposital, nem intencional;
. a falta de interesse está além do meu controle;
. minha falta de jeito é inexplicável para mim mesma;
. o esquecimento me deixa traumatizada;
. tenho dores que às vezes não posso contar;
. nem sempre o que me fazem fazer é o que eu gostaria de estar fazendo;
. meu olhar vago não reflete o que sinto;
. e se não dou um abraço é porque os meus braços não me obedecem mais;
. se não dou um beijo é porque meus lábios não sabem mais o que fazer;
. se não te digo que valorizo sua dedicação e seu amor é porque a ponte se partiu e perdi o caminho que me levaria a compartilhar meus sentimentos com você.

( Do livro “Doença de Alzheimer - Vivências e Cuidados de Lilian Alicke)

Vivendo e aprendendo


Quanto mais eu leio sobre o assunto (Alzheimer) é na vida real que eu aprendo sobre essa doença ingrata!

Minha mãe perdeu parte da memória mas tem momentos de lucidez que, as vezes, faz as pessoas pensarem que ela não tem Alzheimer nem demência de qualquer tipo.  Mas só quem convive com ela, sabe dizer o que ela realmente tem.
 

Me faz muitas perguntas, muitas vezes absurdas!  Tento responder com palavras simples, entrando na realidade dela, para não a confundir mais ainda.

Hoje me surpreendi em saber que ela tem alguma noção de que está doente.  Ela sabe que acontece alguma coisa estranha com ela mas não consegue dizer com palavras.  Sabe que as pernas não se movimentam mais, mas pede para ir na cozinha para preparar o almoço; fala coisas completamente “sem sentido” e não aceita ser contrariada; repete casos (que são reais pra ela) e fala com tamanha certeza do que está dizendo que por vezes eu até acredito. 

Mas hoje, pela manhã, o seguinte diálogo, me deixou pasma, triste e com a certeza de que muito pouco ainda sei sobre essa doença:
- “Mãe lembra da fulana?  Ela ligou pra mim perguntando como a senhora estava.
- “E o que você disse a ela? – perguntou minha mãe
- “Disse que a senhora está bem embora suas pernas estejam sem forças para caminhar.”
- “E eu estou bem? – respondeu-me ela.

Quando tentei me explicar, ela se recusou a ouvir o que eu dizia e começou a cantar. 
Então percebi e constatei que ela sabe que não está bem.  Isso me entristeceu muito, porque não gosto de vê-la sofrendo...  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Labilidade Emocional



Ultimamente minha mãe tem apresentado mudanças constantes de humor.   Num segundo ela está contando um caso ficticio (só existe na imaginação dela) com alegria! De repente ela muda e começa a chorar, relatando o mesmo assunto.   

Em outros momentos ela me recebe com alegria quando chego e diz: "que saudade minha filha que eu amo do fundo do coração" e sem motivos, alguns segundos depois ela me manda embora e diz que não quer me ver nunca mais...

Essa mudança de humor é muito comum em pacientes demenciados.   Chama-se Labilidade Emocional.  O dificil é para nós, simples mortais, entender e aceitar o que se passa na cabecinha dela.


Labilidade emocional 
  • 1 Psiq. Pat. Distúrbio psíquico no qual se manifesta instabilidade emocional, com o desencadear de emoções e arroubos ger. incontrolados em suas exteriorizações, na forma de riso ou choro.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão



Na semana passada aconteceu algo que poderia denominar um “pequeno milagre”.  Minha mãe nos surpreendeu andando (apoiada), sentou-se na mesa para almoçar (sozinha), conversou bastante, riu, brincou com meu pai.  Uma pena que perdi essa cena, presenciada por duas de suas cuidadoras.  Elas fotografaram para que eu pudesse ver.  Fiquei tão feliz!!! 

Me senti com a sensação de dever cumprido.  Ela também ficou muito feliz!  No sábado presenciei a cena ao vivo.   Ela dizia:  “Tira outra foto, tira outra foto!  Estou comendo sozinha!”  Sua carinha mudou naqueles dias.

Mas, foram alguns dias incomuns.  E, infelizmente, eles acabaram.  Ela continua andando (apoiada), mas algumas vezes a perna dela dobra e ela cai.  E fica muito triste quando isso acontece e começa a rezar para Nossa Senhora da Aparecida e Nossa Senhora de Fatima.
Mas eu não vou desistir.  Continuarei na minha luta até quando Deus permitir. 

Vale a pena esse momentos, ainda que pequenos, em que a vejo feliz.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Saudade da minha mãe!!!




Ah que saudade que às vezes sinto de minha mãe... mesmo vendo-a todos os dias.

Ao olhar pra ela hoje não consigo ver aquela mesma mulher que ela sempre foi.

Seu olhar perdido, as vezes triste....

Tem dias que está tagarela, mas não diz “coisa com coisa”.   Em seus raros momentos de lucidez, nos surpreende com suas respostas (mas são muito raros esses momentos); em outros dias se tranca e não quer falar com ninguém, e se eu insisto em conversar fica furiosa e começa a me xingar, me manda embora.  Um segundo depois ela me abraça e diz que me ama do fundo do coração até a morte!!!  No segundo seguinte começa a rezar para Nossa Senhora de Fatima e Nossa Senhora Aparecida.

Minha cabeça fica zonza em meio a tanta confusão...   e percebo que ela fica muito irritada quando se esquece de alguma coisa.  Doença ingrata essa!  Vai levando a pessoa aos poucos e nos distanciando forçadamente de quem amamos...

Como queria que Deus trouxesse ela de volta pra mim...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Três estagios e uma única cruz


Atualmente vivencio três estagios distintos de demência/alzheimer em minha família:

Terminal - minha sogra - não anda, não fala, não consegue mais abrir a boca, emite sons com a garganta e nós temos que decifrar o que ela está querendo ou sentindo.  Sua alimentação e remédios somente pela sonda gastrica.  Começam a abrir escaras na região sacra.  Seu corpo começa a encolher.

Intermediária / avançada - minha mãe - não anda, fala com dificuldade, algumas coisas não conseguimos entender, outras entendemos mas não compreendemos (diz coisas sem sentido).  As vezes nos trata com carinho; em outras nos xinga.  Começa a apresentar dificuldade para engolir.  A alimentação entrou na fase pastosa.  Incontinencia geral.  Começa a apresentar sinais de escara na região sacra.  Ainda preserva alguma mobilidade nos membros.

Inicial - meu pai - apresenta os primeiros sinais de esquecimento, troca remedios, esquece algumas coisas, toma qualquer tipo de medicação que lhe recomendam.  Está rabugento, se irrita com tudo.  Teve sua primeira queda na rua após uma tontura.  De imediato o médico não notou nada grave.  Temos que observar... E como se não bastasse sua visão está cada dia menor.

Está dificil de levar essa cruz!!!


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Orientação



O termo orientação inclui: tempo (data, dia da semana, mês, ano e estação), lugar (local da residência e vizinhança) e pessoa (conhecimento sobre sua identidade e a dos outros). A perda de orientação em geral progride de tempo para lugar e, por último, para pessoa. Essa seqüência de perda de orientação é constante, durante a progressão dos três estágios da doença.
No estágio leve, o paciente de Alzheimer pode estar totalmente orientado em relação à data e à localização espacial exatas e consigo mesmo. As relações de tempo (quando os eventos realmente ocorreram), no entanto, podem estar levemente alteradas. Por exemplo: um paciente de Alzheimer no estágio leve pode preparar-se para um compromisso horas ou até mesmo dias antes da data programada. Ele pode também perguntar repetidamente pelo horário de um evento social que está por acontecer. A orientação espacial no ambiente familiar é geralmente muito boa, podendo ocorrer leves dificuldades em ambientes não familiares, sendo possível que o paciente tenha dificuldade de se locomover a outro lugar fora de seu bairro.
No estágio moderado, o paciente muitas vezes perde a noção do tempo e freqüentemente não sabe em que dia, mês ou ano está. A desorientação em relação ao tempo pode manifestar-se como se a pessoa estivesse vivendo em um período anterior de sua vida, podendo acreditar que parentes falecidos ainda estejam vivos e que os filhos adultos ainda sejam crianças. A desorientação quanto a lugar pode ficar evidente na própria casa do paciente, pois ele pode não se lembrar onde fica guardados, por exemplo, os pratos ou os lençóis. Esse problema, em geral, pode ocasionar a colocação de objetos fora de lugar.
No estágio grave da doença, o paciente de Alzheimer perde gradualmente a orientação de tempo, lugar e pessoa. Ele é incapaz de dizer a data correta e precisa de ajuda constante para voltar para casa. O paciente pode responder quando é chamado pelo nome, mas tem dificuldade em repeti-lo. O reconhecimento de membros da família é primordialmente não-verbal.

Levei minha mãe ao médico ontem.   O médico perguntou como estava e ela respondeu: "Estou bem  e o senhor?  Como vai a esposa?" 
 
Ele perguntou se ela sabia quem ele era e ela disse:  "Dr. Renato (a quem ela julga seu um dos meus patrões)"  Ele respondeu que era muito mais bonito que o Dr. Renato... ela sorriu.  
Em seguinda, perguntou a ela quantos anos ela tinha e ela dissse: "60 anos".  Ele, percebendo pelo sotaque, perguntou:  "És portuguesa né?  Com quantos anos veio de Portugal?"  Então respondeu: "Com 30 anos doutor."  
Ele se dirigiu a mim e pediu para confirmar se era verdade mesmo tudo o que ela dissera.  E eu falei que ela tinha vindo para o Brasil com a idade aproximada de 8 a 10 anos.  E que atualmente ela tinha 82 anos de idade.  
Ela também não soube dizer outras coisas tipo:  Em que país vive, onde mora... etc...
O que tem acontecido com frequência também é que eu vou visitá-la todos os dias pela manhã e passamos no mínimo 1 hora juntas (conversando ou fazendo exercicios).  E todos os dias ela me diz:  "Que saudade minha adorada filha!!!  Há quanto tempo eu não te vejo!  Não fica tanto tempo sem vir aqui..."  Ela não consegue se lembrar dos acontecimentos mais recentes...
O médico concluiu que a orientação tempo-espacial dela zerou.  E que isso faz parte da evolução da doença....  

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Nossa Senhora de Fatima



A mãe tem andado mais calada...  Pergunto se ela está triste, ela diz que não.... 

Há pelo menos 50 anos  ela e meu pai se converteram para a igreja evangélica.  Eu nunca fui batizada na igreja católica.  Quando nasci eles já eram evangélicos...

Ultimamente, ela passa boa parte do tempo dela rezando pra Nossa Senhora de Fatima.  Meu pai vive a discutir com ela e a contrariá-la dizendo horrores a respeito da santa.  Já expliquei pra ele que em Portugal ela era devota dessa santa.  Por isso a lembrança vem a mente dela.  

Ela se queixa comigo dizendo que meu pai diz que Nossa Senhora de Fatima é uma mulher qualquer.  Percebo que ela fica queixosa, quase chorando.  Então eu digo pra ela que eu também acredito em milagres e peço que ela continue a rezar pra santa em voz baixa que ela escutará todos os seus pedidos.  E dessa forma eu tento evitar  o desentendimento  entre meu pai e ela...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Fisioterapia



Ela se recusa a fazer exercícios.  Tenho que tapeá-la para conseguir que ela os faça.  Me xinga, me bate... mas aos poucos vou mexendo com a perna , com os braços.  No final da sessão de fisio ela está com um ódio mortal de mim....rs  Explico pra ela que é para o bem dela.  Mas ela não aceita.  Diz que não precisa de exercícios pq ela faz tudo sozinha sem precisar de ajuda. 

É verdade que os exercícios tem feito muito bem a ela.  Ontem mesmo ela se sentou sozinha na cama e estava ameaçando descer.  Seus pés já encostavam no chão.  Seria uma queda feia se a cuidadora não chega a tempo.

Hoje, após o termino dos exercícios a levamos para tomar sol.  Quando fui me despedir dela para ir trabalhar, demos muitos beijos, então ela me chamou.  Achei que iria me xingar, como faz sempre, mas para minha surpresa me abraçou bem apertado por um longo tempo...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

As noites de minha mãe nem sempre são de paz




Andei ausente do blog devido a inúmeros acontecimentos.  Vou procurar ser mais constante com minhas anotações por aqui. 


A cabecinha de minha mãe continua muito confusa.  Tem noites que ela dorme muito bem.  Outras não consegue dormir de jeito nenhum.   A noite passada foi uma dessas...  Pediu a noite toda para ver a mãe.  Dizia que queria saber se ela estava viva ou se tinha morrido no fogo.  Essa ideia fixa persiste, desde o dia em que ela assistiu na TV um incêndio em um hospital “Pedro Ernesto”.  De lá pra cá ela só assiste desenhos e o Programa do Chaves.  Ela fica muito impressionada com tudo que vê. 



Hoje pela manhã quando ela me viu disse que estava morrendo de saudades de mim.  Que há muito tempo eu não a visitava e que ela estava muito preocupada comigo, se eu estava viva ou não.  Penso que a figura da mãe dela e minha (sua filha) se confundem.  Em alguns momentos noto que ela fica confusa e não sabe dizer quem eu sou. 



Meu pai fica quase enlouquecido com a situação.  É muito difícil pra ele entender o que se passa na cabeça dela.  Ele não aceita quando ela o xinga, quando ela o grita.... fica nervoso e não sabe o que falar ou dizer.   O pior é que noto que a cabeça dele já começa a falhar também... 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Reaprendendo a andar...



Parece que finalmente minha mãe está se restabelecendo da última isquemia... 
A fisioterapia juntamente com a acupuntura, feita três vezes por semana, aos poucos, tem dado resultados.
Ela já está dando passinhos.  Mas falta-lhe confiança.  Fica muito insegura quando falamos para ela movimentar as pernas.
Ficou visível para mim como o cérebro é capaz de realizar milagres.
Outro dia, após o término da sessão de fisio, ela pediu para se sentar na poltrona, alegando cansaço...  Eu perguntei se ela preferia ficar sentada ou voltar para a cama já que ela dizia estar cansada.  Ela não só disse que queria voltar para a cama, como tentou se levantar.  Eu, juntamente com a fisioterapeuta, demos a mão para ela, uma de cada lado, e ela se pos a andar.  Caminhou em passos pequenos e lentos, tal qual uma criança quando reaprende a caminhar.   Fiquei muito feliz e emocionada ao vê-la caminhando.  Ela agiu com naturalidade como se nada demais estivesse acontecendo.
No outro dia a cena se repetiu.  Mas não são todos os dias que o corpo dela executa os comandos do cérebro.  É assim que vamos levando. Um dia após o outro.  

quinta-feira, 31 de maio de 2012

E lá se foi a verruga...





Minha mãe me deixou bastante aflita essa semana.  Ela tinha uma verruga no couro cabeludo já por muitos anos, que não a incomodava.  Mas na semana passada ela começou a inchar e se tornar avermelhada.  

Ela coçou e não deu outra: a verruga inflamou e começou a sair uma secreção.  Começamos a tratar a verruga como um machucadinho (água oxigenada, Dersani...) mas nada deu jeito na danadinha da verruga.  

Na segunda-feira, a verruga estava não feia, que resolvi levá-la na emergência no dia seguinte.  

Aí então começou a novela UNIMED.  Liguei para a ambulância (já que temos direito) e a atendente me disse que a ambulância iria, mas que não poderia me precisar o horário em que ela chegaria.  Eles atendem primeiro quem está a eminência de morte.  Um absurdo!!!   

Liguei para o táxi (uma empresa que transporta cadeirante e que é tão pouco divulgada - Coop Táxi) e levei-a ao hospital.  Chegando lá (depois de alguns minutos na espera) o médico examinou minha mãe como se examinasse um copo sujo!  Então ele falou:  "Isso é uma verruga"!!!!!  Grande descoberta ele fez.  Disse-me para procurar um cirurgião, porque era preciso arrancá-la.  Perguntei se no hospital não haveria um cirurgião que o fizesse e ele disse que não.  Não havia cirurgião no hospital que fizesse tão "grande" cirurgia.  

Voltei com minha mãe para casa.  Coitadinha, ela sem nada entender, foi reclamando e xingando, na ida e na volta do táxi.  Comecei a minha maratona atrás de cirurgião para fazer tão "grande" cirurgia!  Depois de muita pesquisa e análise, cheguei a conclusão de um médico, que para minha sorte e de minha mãe, tinha horário para hoje!  

Saímos de casa as 7 da manhã.  Para minha mãe foi uma tortura tirá-la do soninho da manhã (é o melhor soninho dela).  Xingou todos de f.d.p. inclusive o motorista de taxi.... rs

Ao chegarmos no hospital, o médico muito prestativo, olhou para verruga.  Com uma mãe ele a segurou e com a outra ele pegou um bisturi e vapt!!!   Arrancou a verruga e a jogou no lixo.    Eu quase desmaiei.  Ele (o médico) me disse que era desnecessário fazer minha mãe sofrer com tantas locomoções só por causa de uma verruga.  Ainda brincou comigo... "Se for desmaiar me chama que eu seguro!" ...rs

O sangue da cabeça dela logo estancou e antes das 9 horas já estávamos em casa, e ela foi logo pedindo:  me coloquem na cama suas f.d.p.!!!  

Ela nem sabe que aquela verruga não existe mais...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A calmaria passou ...

A calmaria passou e minha mãe voltou a ficar agitada.   Voltou a gritar e agora deu pra falar palavrões.  Xinga todo mundo de f.d.p.... 

Outro dia estávamos fazendo fisioterapia e ela falou pra mim: "Para com isso sua f.d.p.!"  Então parei o que estava fazendo, olhei pra ela e disse: "Se eu sou f.d.p. quem é a p?"  Ela parou por um momento e deu uma gargalhada e disse:  "Vc não é f.d.p. não..." rs

Essa fase que ela está atravessando está se repetindo.  Já houve períodos em que ela gritava muito.  Meu pai fica muito nervoso, principalmente quando ela o xinga.  Ele pensa que ela faz de propósito e que ela entende muito bem o que está fazendo.  Quer repreende-la como se fosse uma criança malcriada...  É muito dificil a situação como um todo!  

Temo que está se iniciando mais um período de turbulências... Deus me dê forças!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Dia das Mães - 2012



Mãe


Seus cabelos estão branquinhos, seu rosto com os vincos do tempo...

Seus olhos não tem mais o mesmo brilho, suas mãos trêmulas quase já não são capazes de fazer um simples carinho...

Seus passos lentos... quase nada...

A memória falha muitas vezes, já não se pode confiar.  Precisa de ajuda em tudo!

Todos nós ficaremos como a senhora se Deus nos conceder essa maravilha que é passar dos 80 anos de vida!

Do seu ventre saíram duas lindas meninas.  Criou-nos com muito sacrifício, eu sei. Não satisfeita assumiu o compromisso de ter mais um filho (ainda que não tivesse saído do seu ventre).  Suas filhas e seu filho cresceram, se casaram e também tiveram filhos.  E a muitos dos seus netos e netas, senão todos, a senhora criou ou ajudou a criar com amor de mãe!!! 

Coração imenso!!!

Hoje, os papéis se inverteram.   Suas filhas, filhos e netos é que lhe dão  amparo, guiam seus passos, lhe orientam.   A senhora está frágil, delicada como uma criança e precisa de muito carinho, paciência e amor!!   

Tamanha fragilidade, que foi preciso colocar profissionais para cuidarem da senhora. 

Mãe, meu dia fica sem graça quando a gente não brinca.  Gosto muito de fazê-la rir, ouvir sua gargalhada.  Não zombo das coisas sem sentido que a senhora fala.  CURTO e COMPARTILHO tudo o que a senhora fala ou faz.  Literalmente entro na sua onda!

Não gosto de vê-la triste...

Peço a Deus que a sua doença não lhe roube, nunca, o sorriso do teu rosto!  Pois é essa a imagem que eu quero levar pra mim quando a senhora não mais estiver comigo!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Catia Maravilhosa...rs

Minha mãe anda cada dias mais espertinha... rs
Ela tem recebido muitas visitas da irmandade da igreja e tem gostado muito!
Tem um hino que diz "Graça Maravilhosa ....." ela agora deu pra cantar "Catia Maravilhosa"... rs.  Eu perguntei se ela estava cantando certo.  Ela disse que sabe a letra certa, mas prefere cantar "Catia Maravilhosa" e cai na gargalhada...
Hoje antes do banho ela deu uns 4 passinhos até a cadeira higiênica, mas não consegue ficar de pé.   Mas está progredindo aos pouquinhos.  Ela só faz algum progresso quando ela quer.  As vezes pedimos para ela firmar as pernas para ficar de pé e ela responde "Agora não quero! Estou cansada!"...rs

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Que apetite!!

Minha mãe agora sempre que acaba de almoçar ou jantar faz chantagem.  Diz que vai comer tudo se depois derem pra ela um pãozinho molhado no leite...rs

É um costume da maioria dos portugueses almoçarem ou jantarem comendo pão... e ela tinha por hábito molhar o pão no vinho... como ela sabe que não pode o vinho, ela pede para molhá-lo no leite... rs

Ontem ao visitá-la no final do dia, entrei no quarto e ela estava bem quietinha ouvindo hinos mas com a cara tristinha.  Ao me ver, abriu um enorme sorriso!!

Pediu para que eu sentasse ao seu lado e cantasse para ela... uma fofa!!!

segunda-feira, 26 de março de 2012

A vida segue

Faz muito tempo ....

Muitas coisas aconteceram e que me levaram a sumir daqui por uns tempos...

Doença, sistema emocional abaladissimo, muitos problemas...

Nada a ver com minha mãe que é o foco do blog. 

A vida segue .... e retornei ao meu blog, pois tenho certeza que as experiências aqui relatadas, certamente ajudarão a muitas pessoas que tem algum parente nas condições de saúde em que se encontra minha mãe.

A saúde dela está dentro do controle:  se alimenta bem, está sempre limpinha e cheirosa.

Estou diariamente com ela e quando isso não acontece parece que faltou algo no meu dia.

Estamos conseguindo nos comunicar melhor agora.  Ela compreende 70% do que eu falo.  Às vezes não consegue expressar algum sentimento e fica um pouco nervosa.  Nessas horas ela serra os olhos e diz que não quer mais falar.

Hoje levei-a até a sala.  Foi um passeio pra ela, já que ela fica sempre no quarto (ora na cama, ora na poltrona).  Quando chegamos na sala procurei saber o que ela gostaria de fazer.  Ver TV, ver a rua.... ela me respondeu com um sonoro NADA.  rs  Então perguntei se ela não gostaria de aproveitar e ligar para alguém.  Emilia (irmã), Piedade (cunhada)?  Ela disse: “quero falar com a Emilia”.

Fiz a ligação.  Minha mãe respondeu a uma das perguntas que ela escutou do outro lado:  “Estou mal” .  Seus olhinhos se encheram d’água e os meus também...  No final falei com minha tia e ela também estava chorando, mas de felicidade por ouvir a voz da irmã.

sábado, 3 de março de 2012

Atualizando...

Há tempos não passo por aqui...

Tenho atravessado um começo de ano muito dificil, triste, atribuladissimo!  Doenças, perdas...

Espero que finalmente, agora que estamos em março, o ano de 2012 comece realmente pra mim.

* * *

Faz um mês que minha mãe voltou para sua casa.  É impressionante a melhora que ela apresenta.

Ainda não se locomove sozinha, mas já estamos conseguindo nos comunicar.  Me reconhece como filha e não me chama mais de mãe.

Está muito serena.  Tem se alimentado bem.  Está sempre limpinha e cheirosa.

Espero me recuperar logo para poder voltar as atividades (comigo e com ela).

sábado, 28 de janeiro de 2012

O retorno ao lar

Ontem fui buscar minha mãe.


Transformei o quarto dela.  Aluguei uma cama hospitalar.  Coloquei um colchão casca de ovo para evitar as escaras.  Ela já está com duas mas já começamos a tratar.  


Ela agora come bem pouquinho e passa a maior parte do dia deitada, então achei que a cama hospitalar seria melhor para ela na hora que fosse preciso ficar sentada.  Chama por mamãe (que ela diz ser eu) e fala coisas sem sentido.  


Estou muito mais tranquila em poder visitá-la a qualquer hora do dia e podendo dar uma maior assistência.  Deus vai continuar a nos dar força para dar a ela um final de vida digno de uma esposa, mãe e avó que nunca mediu esforços para ter sua família feliz e reunida.

A primeira semana de minha mãe em uma casa desconhecida

Minha mãe nunca pediu para voltar para casa durante todo o tempo em que permaneceu na Casa de Repouso.


Nas visitas sempre nos reconhecia e durante o tempo em que lá permaneceu ela chamava insistentemente pelo Orlando.


Em sua primeira semana ela interagiu com as terapeutas e até mesmo pintou e cantou as marchinhas de carnaval da sua época.




Tudo parecia estar se ajeitando,mas com o passar dos dias, fui constatando que o caso da minha mãe era especial, diferente dos outros idosos que lá estavam.  Por ela não andar, tudo ficava mais dificil para ela.

Aqui no Rio faz um calor insuportável!!   Muitas vezes em que a visitei, ela estava toda suada, com o olhar perdido...  e o meu coração dizia:  "Leva ela pra casa, pra casa que ela lutou durante toda a sua vida, com o conforto que ela merecia".  Foi então que eu decidi que levaria minha mãe de volta ao seu lar e que ela teria seus últimos dias de vida com todo o conforto que ela merecia.


Ela criou duas filhas e um filho com toda a luta que era peculiar na época.  Depois que se aposentou dedicou-se de coração para cuidar dos neto.    Deu amor, alimento, e nunca deixou faltar um colo, um carinho.


A decisão já estava tomada:  minha mãe voltaria para casa.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A Casa de Repouso.


Eu, meu pai e minha irmã, tomamos uma decisão, que havia jurado para mim mesmo que nunca faria.  

Quando era criança, lembro que minha mãe tentou cuidar da minha avó em casa e do quanto foi difícil.   Uma vez minha avó saiu de casa e foi preciso espalhar cartazes pela cidade para poder encontrá-la.  Outras vezes foi preciso interná-la em um hospital para doentes mentais, tamanho o transtorno mental dela...

Gostaria de cuidar de minha até o fim dos seus dias, mas quando nos falta condições concretas para isso, como agir para não sentirmos a “síndrome de irresponsabilidade?”.

Foi e está sendo uma experiência dolorosa, que ainda assim quero compartilhar, porque tenho certeza que se repete com outras famílias. Tenho apenas uma irmã (que mora em São Paulo) e a minha mãe aos 81 anos de idade encontra-se em um processo de degeneração do cérebro: necessita de ajuda para alimentar-se, andar, etc... Meu pai, por sua vez, é deficiente visual e também necessita de ajuda para algumas coisas.  Mas ela necessita de apoio 24 horas ao dia. 

Durante o primeiro ano da doença, consegui tratá-la com a ajuda de meu marido que virou um terceiro filho para ela.  Três anos depois tive que contar com o apoio de duas cuidadoras que se revezavam em turnos de 48 horas. 

Procuramos adaptar a casa com barras, cadeiras de banho, etc.

O tempo foi passando, a doença progredindo, e o nosso esquema dava sinais claros que ela necessitava de um atendimento mais especializado; a sua casa não era mais adequada, a qualidade de vida era sofrível.  

Infelizmente a doença avançava e não havia sinais de melhora no atendimento doméstico. 

Me senti totalmente culpada com a possibilidade de levá-la para uma casa de repouso. Mas por indicação de uma amiga de meu marido, encontramos uma casa de repouso chamada "Aconchego dos Avós", onde ela receberia o acompanhamento de enfermeiras durante todo o dia, com visita semanal de médico geriatra, nutricionista e onde ela poderá fazer também tratamento terapêutico.

Senti que essa casa estava preparada para receber minha mãe.  Pedi o apoio de minha irmã, que veio de São Paulo para conhecer a casa e ratificar a nossa escolha.

E como contar à nossa mãe o destino que havíamos traçado? Sentia dor no estômago, dormia mal e angustiada com a idéia. Tomada de uma força divina, olhei a minha mãe e calmamente afirmei que iríamos levá-la a um local para que ela pudesse tratar das pernas que não mais andavam.  Ela me dizia "minhas pernas estão amarradas".  Mas minha mãe nunca foi "boba" e ela sem dizer nada mas com o olhar nos deu a entender que ela sabia para onde estava indo.   

Durante o trajeto eu engolia as lágrimas e a sofreguidão.   Assim que ela entrou ficou um pouco inquieta chamando todos os nome que lhe vinha à cabeça.  Orlando, Catia, Fatima, Silvio, Pablo.  Aos pouco fomos saindo e quando ela se calou, fomos embora.  Sem nos despedirmos...

Me senti péssima.  O primeiro dia foi muito difícil.  Chorei, chorei e chorei.  E minha mãe chamava Orlando, Orlando, Orlando!!  Chorei no segundo dia, meu marido preocupado comigo, pois não queria que eu adoecesse.  E eu não via a hora de fazer a minha primeira visita à minha mãe.

Na 5ª feira (nossa primeira visita) pedi os primeiros 15 minutos com ela.  Precisava falar com ela claramente para que ela entendesse que estava ali em tratamento e que eu iria visitá-la sempre.  Acho que ela entendeu.   Não chorou nem pediu para voltar para casa.  


Cantamos, rimos e conversamos.  Na hora da despedida nos beijamos, me abraçou apertado e me disse "tchau"...  

Hoje na segunda visita, a mesma preocupação me abateu.  Ela vai chorar e pedir para voltar.  Mas apesar de estar bem sonolenta, conversou, cantou, e quando fui me despedir ela estava dormindo como um anjinho.  Dei um beijo e saí com o coração apertadinho, mas com a esperança dela melhorar um pouquinho para te-la pertinho de mim por mais alguns anos.

Certamente, a minha filha não sofrerá tanto no momento da inevitável decisão. Este é o ciclo da vida...