sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Saudade da minha mãe!!!




Ah que saudade que às vezes sinto de minha mãe... mesmo vendo-a todos os dias.

Ao olhar pra ela hoje não consigo ver aquela mesma mulher que ela sempre foi.

Seu olhar perdido, as vezes triste....

Tem dias que está tagarela, mas não diz “coisa com coisa”.   Em seus raros momentos de lucidez, nos surpreende com suas respostas (mas são muito raros esses momentos); em outros dias se tranca e não quer falar com ninguém, e se eu insisto em conversar fica furiosa e começa a me xingar, me manda embora.  Um segundo depois ela me abraça e diz que me ama do fundo do coração até a morte!!!  No segundo seguinte começa a rezar para Nossa Senhora de Fatima e Nossa Senhora Aparecida.

Minha cabeça fica zonza em meio a tanta confusão...   e percebo que ela fica muito irritada quando se esquece de alguma coisa.  Doença ingrata essa!  Vai levando a pessoa aos poucos e nos distanciando forçadamente de quem amamos...

Como queria que Deus trouxesse ela de volta pra mim...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Três estagios e uma única cruz


Atualmente vivencio três estagios distintos de demência/alzheimer em minha família:

Terminal - minha sogra - não anda, não fala, não consegue mais abrir a boca, emite sons com a garganta e nós temos que decifrar o que ela está querendo ou sentindo.  Sua alimentação e remédios somente pela sonda gastrica.  Começam a abrir escaras na região sacra.  Seu corpo começa a encolher.

Intermediária / avançada - minha mãe - não anda, fala com dificuldade, algumas coisas não conseguimos entender, outras entendemos mas não compreendemos (diz coisas sem sentido).  As vezes nos trata com carinho; em outras nos xinga.  Começa a apresentar dificuldade para engolir.  A alimentação entrou na fase pastosa.  Incontinencia geral.  Começa a apresentar sinais de escara na região sacra.  Ainda preserva alguma mobilidade nos membros.

Inicial - meu pai - apresenta os primeiros sinais de esquecimento, troca remedios, esquece algumas coisas, toma qualquer tipo de medicação que lhe recomendam.  Está rabugento, se irrita com tudo.  Teve sua primeira queda na rua após uma tontura.  De imediato o médico não notou nada grave.  Temos que observar... E como se não bastasse sua visão está cada dia menor.

Está dificil de levar essa cruz!!!


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Orientação



O termo orientação inclui: tempo (data, dia da semana, mês, ano e estação), lugar (local da residência e vizinhança) e pessoa (conhecimento sobre sua identidade e a dos outros). A perda de orientação em geral progride de tempo para lugar e, por último, para pessoa. Essa seqüência de perda de orientação é constante, durante a progressão dos três estágios da doença.
No estágio leve, o paciente de Alzheimer pode estar totalmente orientado em relação à data e à localização espacial exatas e consigo mesmo. As relações de tempo (quando os eventos realmente ocorreram), no entanto, podem estar levemente alteradas. Por exemplo: um paciente de Alzheimer no estágio leve pode preparar-se para um compromisso horas ou até mesmo dias antes da data programada. Ele pode também perguntar repetidamente pelo horário de um evento social que está por acontecer. A orientação espacial no ambiente familiar é geralmente muito boa, podendo ocorrer leves dificuldades em ambientes não familiares, sendo possível que o paciente tenha dificuldade de se locomover a outro lugar fora de seu bairro.
No estágio moderado, o paciente muitas vezes perde a noção do tempo e freqüentemente não sabe em que dia, mês ou ano está. A desorientação em relação ao tempo pode manifestar-se como se a pessoa estivesse vivendo em um período anterior de sua vida, podendo acreditar que parentes falecidos ainda estejam vivos e que os filhos adultos ainda sejam crianças. A desorientação quanto a lugar pode ficar evidente na própria casa do paciente, pois ele pode não se lembrar onde fica guardados, por exemplo, os pratos ou os lençóis. Esse problema, em geral, pode ocasionar a colocação de objetos fora de lugar.
No estágio grave da doença, o paciente de Alzheimer perde gradualmente a orientação de tempo, lugar e pessoa. Ele é incapaz de dizer a data correta e precisa de ajuda constante para voltar para casa. O paciente pode responder quando é chamado pelo nome, mas tem dificuldade em repeti-lo. O reconhecimento de membros da família é primordialmente não-verbal.

Levei minha mãe ao médico ontem.   O médico perguntou como estava e ela respondeu: "Estou bem  e o senhor?  Como vai a esposa?" 
 
Ele perguntou se ela sabia quem ele era e ela disse:  "Dr. Renato (a quem ela julga seu um dos meus patrões)"  Ele respondeu que era muito mais bonito que o Dr. Renato... ela sorriu.  
Em seguinda, perguntou a ela quantos anos ela tinha e ela dissse: "60 anos".  Ele, percebendo pelo sotaque, perguntou:  "És portuguesa né?  Com quantos anos veio de Portugal?"  Então respondeu: "Com 30 anos doutor."  
Ele se dirigiu a mim e pediu para confirmar se era verdade mesmo tudo o que ela dissera.  E eu falei que ela tinha vindo para o Brasil com a idade aproximada de 8 a 10 anos.  E que atualmente ela tinha 82 anos de idade.  
Ela também não soube dizer outras coisas tipo:  Em que país vive, onde mora... etc...
O que tem acontecido com frequência também é que eu vou visitá-la todos os dias pela manhã e passamos no mínimo 1 hora juntas (conversando ou fazendo exercicios).  E todos os dias ela me diz:  "Que saudade minha adorada filha!!!  Há quanto tempo eu não te vejo!  Não fica tanto tempo sem vir aqui..."  Ela não consegue se lembrar dos acontecimentos mais recentes...
O médico concluiu que a orientação tempo-espacial dela zerou.  E que isso faz parte da evolução da doença....  

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Nossa Senhora de Fatima



A mãe tem andado mais calada...  Pergunto se ela está triste, ela diz que não.... 

Há pelo menos 50 anos  ela e meu pai se converteram para a igreja evangélica.  Eu nunca fui batizada na igreja católica.  Quando nasci eles já eram evangélicos...

Ultimamente, ela passa boa parte do tempo dela rezando pra Nossa Senhora de Fatima.  Meu pai vive a discutir com ela e a contrariá-la dizendo horrores a respeito da santa.  Já expliquei pra ele que em Portugal ela era devota dessa santa.  Por isso a lembrança vem a mente dela.  

Ela se queixa comigo dizendo que meu pai diz que Nossa Senhora de Fatima é uma mulher qualquer.  Percebo que ela fica queixosa, quase chorando.  Então eu digo pra ela que eu também acredito em milagres e peço que ela continue a rezar pra santa em voz baixa que ela escutará todos os seus pedidos.  E dessa forma eu tento evitar  o desentendimento  entre meu pai e ela...